Após o estrago da última consulta, fui condenada à dieta líquida duas vezes por semana. “O que você acha de fazer uma dieta líquida duas vezes por semana?”, perguntou a nutri; “Moleza”, eu pensei. “Sopas diversas, milk-shake, cervejas”. Mas apenas respondi “Acho ótimo”. Ok, eu não esperava realmente que cerveja e milk-shake estivessem no cardápio. Mas as sopas diversas eu realmente achei que seriam opções. Mas nada de cebola com queijo, vichyssoise e outros cremes deliciosos. A minha dieta líquida é verde. Muito verde. Do tipo, passei a ter pesadelos com verde. O negócio ficou tão sério que até Heineken e Stella eu estava recusando. “Não, obrigada, é verde, é líquido. Passo”.
Sucos e sopas restritos e descritos, fui às compras. E aí começou minha primeira dificuldade. Descobri que não sei comprar verduras. E, vejam bem, não sou uma estranha na cozinha. Eu faço mercado toda semana. Eu cozinho. Não sou um MasterChef, mas cozinho. Mas foi quando reparei que as verduras que compro são aquele mix de folhas prontos para a salada e temperos. Nunca precisei diferenciar um espinafre de um agrião.
Enfim, as compras…
Estou eu no mercado quando chego à seção de hortifrútis para comprar os ingredientes da sopa do dia (sim, é só uma opção. Almoço e jantar – e lanche opcional. “E no lanche você pode tomar 200ml da sopa, caso sinta muita fome”, disse a nutri. Claro, Cinthia, afinal “estar morrendo de fome às 4 da tarde após almoçar sopa e lanchar chá de hibisco” é só uma possibilidade, e não uma certeza. Por que eu sentiria fome depois de um delicioso chá verde, não é mesmo? Pff…).
Ok, como eu ia dizendo…chego à seção de hortifrúti e me deparo com aquele mundo verde, parecia o campo da Noviça Rebelde, quase fiz a Maria Von Trapp e saí rodopiando no meio de alfaces. Tudo lindo e verde e me senti saudável só de estar ali na frente mas… olho para a minha lista: “couve, agrião, espinafre, inhame, salsa, salsão, brócolis” e penso…FO-DEU. Peguei o celular para buscar imagens no Google… a rede não pega no mercado.
Aí você me pergunta: por que você não perguntou para alguém que trabalha lá? Não, não pergunto. Tenho vergonha. Não parece, mas sou tímida. Juro que sou. E orgulhosa. Estava ali tão imponente só com coisas saudáveis no carrinho, que não queria encarar olhares julgadores de funcionários do hortifrúti: “xii…mais uma daquelas em dieta…”. Fiz cara de quem sabia tudo e fui por eliminação:
- Inhame e brócolis: moleza. São legumes, não são verduras. Legumes eu conheço porque são gostosos. Ao contrário das verduras.
- Salsa...salsa eu sei. É tempero, não é salada. Isso eu uso. E cebolinha também. Gosto. Pode entrar pra temperar a sopa.
- Salsão…salsão eu também sei. É aipo. Não sei quando mudaram o nome nem por quê. Mas sei que não gosto. Reconheço pelo cheiro. Vou deixar de fora da sopa e colocar…
- …Alho poró! Alho poró é bom e eu sei qual é. Uso na vichyssoise. Vou acrescentar na sopa. É verde, tá no setor de verduras, não fará mal.
- Agrião. Não gosto muito de agrião. Então se eu não souber qual é, posso não comprar e fingir que esqueci. Não vai fazer tanta diferença.
- Couve…couve acho que sei. São folhas grandes e escuras, né? Não vejo nada parecido por aqui. As maiores folhas escuras são essas. Deve ser uma couve diferente. Vou levar.
- Espinafre. Espinafre são folhas escuras pequenas…esse…não. Pelo cheiro é hortelã. Esse é rúcula. Reconheço porque está na moda e inventaram de colocar isso na pizza. Então deve ser…essa. Vou levar.
Ok, não foi tão difícil assim. No fim, eu só não reconheci a couve e o espinafre. E eu devo ter acertado pelo meu método de eliminação. Certeza.
Chego no caixa. Caixa registra minha couve. Era agrião. Caixa registra meu espinafre. Era bertalha. E esqueci a droga do inhame.
By the way, o que diabos é bertalha?
Chego em casa. “Pai, o que é bertalha?”. “É tipo espinafre, só que pior”.
SÓ.QUE.PIOR. Afinal, já não estava ruim o suficiente.
(TO BE CONTINUED…)
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